Em apenas dez dias e em plena quarentena, a equipa Adegga, encabeçada por André Ribeirinho, André Cid e Daniel Matos, fez nascer um evento digital — Portugal Wine Week — onde alguns produtores portugueses puderam apresentar, ao vivo, os seus vinhos a uma audiência profissional internacional de mais de 1.000 pessoas. Mais recentemente, criou a Adegga Market Place, uma loja online onde é possível comprar vinhos de 80 produtores nacionais.
Falámos com André Ribeirinho sobre novas opções de negócio em tempo de confinamento, os projetos do Adegga e o futuro do setor do vinho em Portugal após o fim da pandemia.
Quase um mês depois de ter sido declarado Estado de Emergência em Portugal, como vês o setor do vinho? Qual foi o efeito que o novo coronavírus teve imediatamente na área?
A nível nacional, a ativação do Estado de Emergência e o consequente fecho de hotéis, bares e restaurantes teve um impacto imediato nas vendas daquele que tem sido um dos melhores canais de venda do setor do vinho. Ao mesmo tempo, a incerteza sobre o futuro daquele canal e os efeitos da diminuição do turismo empurraram o setor para o reforço de outros canais de venda já existentes (como a grande distribuição), assim como a procura de canais de vendas alternativos, como é o caso do digital.
O Marketplace Adegga, lançado há dias pela tua equipa, é um exemplo do que um canal alternativo e digital pode ser. Qual o conceito e como surgiu a ideia?
O Adegga MarketPlace é uma plataforma digital que agrega lojas de vinhos de diferentes produtores, e um canal de acesso privilegiado à audiência do Adegga. Como plataforma tecnológica, o Adegga é responsável pelo marketing digital, gestão de vendas online e planeamento de logística.
Tendo surgido como ideia ainda em 2005, é com satisfação que o trazemos à luz do dia numa altura em que o mercado reúne as condições ideais para o acolher, com 80 lojas de produtor e mais de 600 vinhos.
Das conversas que tens com produtores e gente da área, como se está a reagir a esta nova situação no setor?
De forma muito positiva, especialmente em comparação com outros setores. Ao nível das vendas, houve uma procura imediata por canais alternativos como o digital. Simultaneamente, ao nível de comunicação, as facilidades oferecidas pelas plataformas digitais permitiram a muitos produtores começar a comunicar mais ativamente as suas marcas junto do consumidor através de provas ao vivo, packs com oferta de provas com o produtor e outras soluções inovadoras. Ainda não é possível medir o impacto nas marcas do modelo de provas ao vivo, mas a taxa de adoção dos novos meios de comunicação nunca foi tão elevada e, no geral, isso só pode ser visto como positivo dentro de um setor considerado frequentemente como conservador.
Já em tempo de confinamento, a Adegga criou o Portugal Wine Week, um evento digital que serviu de apoio aos produtores de vinho portugueses. Como surgiu a ideia?
A Portugal Wine Week surgiu como resposta ao cancelamento da ProWein, a maior feira profissional de vinhos do mundo e local onde os produtores portugueses fazem uma boa parte dos seus contactos e vendas internacionais.
Em apenas dez dias, a equipa Adegga montou um evento digital onde foi possível aos produtores apresentarem ao vivo os seus vinhos a uma audiência profissional internacional de mais de 1.000 pessoas. Simultaneamente, a plataforma permitiu marcar e realizar mais de 100 reuniões B2B com importadores, sommeliers e outros profissionais internacionais.
O caráter pioneiro da iniciativa e a rapidez com que foi implementada em resposta a um desafio concreto fez da Portugal Wine Week um case study a nível global, posicionando o mercado de vinho português como um dos que mais rápida e eficazmente reagiu à pandemia e aos desafios por esta trazidos.
Como é que uma empresa se pode reinventar num tempo como este em que vivemos?
O autor norte-americano Seth Godin diz que a coisa mais arriscada que podemos fazer é jogar pelo seguro. Os mercados estão cada vez mais dinâmicos. O aparecimento das novas tecnologias trouxe algumas das mudanças mais dramáticas dos últimos 20 anos, alterando a forma como comunicamos, como consumimos e como vivemos. Os desastres naturais e as alterações climáticas são realidades incertas com as quais temos de lidar todos os dias. Neste contexto, a única forma de agirmos “à prova de mudança” é sermos parte dela. Para isso precisamos de criar e gerir equipas com capacidade e liberdade para criar, partilhar e inovar. Em muitos casos, essas equipas poderão pôr em causa a forma como as empresas veem os próprios mercados onde estão inseridas. É certamente disruptivo e desafiante, mas poderá significar sobrevivência a longo prazo.
Acreditas que o que estamos a passar atualmente vai ter alguma influência no setor dos vinhos no futuro?
O mundo mudou para sempre e o setor do vinho não é exceção. A transformação digital foi acelerada a vários níveis. Muitas pessoas que nunca tinham experimentado as compras online estão agora na posição de perceber que existem muitas vantagens em escolher vinhos na internet e em recebê-los confortavelmente em casa. A comunicação digital passou a ser o meio preferido para todas as comunicações, com enormes vantagens ao nível da eficiência e da mensurabilidade do seu impacto. Os eventos de vinho, as lojas de vinho, o enoturismo e a restauração farão parte de um novo mundo, com uma nova forma de fazer negócio, motivada por um dos maiores acontecimentos da história da humanidade.