#resistir Wilson Costa: Incertezas do futuro
Nos primeiros dias, achava que esta situação apenas duraria meia dúzia de dias e que em breve voltaria tudo à normalidade. Mas logo percebi que iria durar bem mais do que todos queríamos.
Nos primeiros dias, achava que esta situação apenas duraria meia dúzia de dias e que em breve voltaria tudo à normalidade. Mas logo percebi que iria durar bem mais do que todos queríamos.
Apesar do estado de calamidade que estamos a viver, notaram-se aspetos positivos, apesar de tudo. Um deles foi a aproximação do cozinheiro com o produto/produtor.
Tal como aos outros a vida chama por mim e é tempo de cada um de nós seguir o seu ritmo. Apaixonada pelo meu país continuarei a ir ao encontro dos pequenos tesouros que nos encantam ao mesmo tempo que nos saciam a fome.
Quando ouço o tom de reclamação perante a mudança vem-me imediatamente à cabeça as teclas encravadas nas antigas máquinas de escrever e os discos riscados onde a agulha do leitor ficava presa numa repetição sem fim.
Reabertura. Para muitos. Para outros, o começo da preparação. Para outros ainda o arrumar de uma vida. Tantas opções diferentes. Tantas decisões únicas. Para mim, este é o último dia que escrevo neste diário de quarentena.
Quase a fechar estes diários. Amanhã escrevo o último de sessenta e quatro pequenos pedaços de pensamento. Vou precisar do tempo que agora aqui passo para preparar tudo. A carta, a vida, o refazer.
É o arrumar das cadeiras. O arrastar das mesas. O som de tudo. O olhar para as mesas sem nada. Um lugar que decorado de uma esperança é tecido de incerteza. Não, melhor. De não certezas.
Estamos a chegar ao fim. Ao fim de um tempo. De um modo de fazer as coisas. De uma forma de estar. Parte disto ficará. Outra, vai diluir-se com o fim do medo.
Fazem hoje sessenta dias que escrevo aqui. Todos os dias. Tiro um pouco de tempo para estes textos que me ajudam a arrumar ideias. Começo a pensar em recomeçar e no que vai sendo feito.
Acabado de registar umas ideias para uma nova carta de Verão. Há quase um ano fazia a mesma coisa. Ainda me lembro que coloquei nas entradas uma coisa que fez sucesso pelo espanto e/ou delícia.