Nos últimos anos têm surgido confrarias ao modo dos cogumelos em período chuvoso concedendo alguma razão quando disse e escreveu Martinho Lutero que as Confrarias não passavam de bandos de comilões e beberrões pois é difícil perceber os seus fundamentos e objectivos para lá das comezainas de imitar os nossos ancestrais de três ou quatro vezes por ano tirarem a barriga de misérias.

Ora, as confrarias (collegias) têm sido estudadas seria e rigorosamente por vários académicos e investigadores dos quais destaco o eminente historiador Paul Véine do Colégio de França.

É impossível num texto desta natureza resumir o papel das Confrarias romanas no tempo do Império, no entanto, importa sublinhar a importância do evergetismo, da festa impante de comida e bebida, para lá do facto de cada confraria ter o seu patrono, regulamentos de admissão rigorosos, proibidas às mulheres, exaltantes no âmbito da convivialidade daí os imperadores as verem com maus olhos por isso serem objecto de vigilância. O triunfo do cristianismo faz das confrarias instrumento de afirmação impulsionado pelo monaquismo.

O ruir do império levou à implosão de inúmeras confrarias, além de outras enveredarem por áreas inçadas de misticismos e ocultismos.

As confrarias recuperam proselitismo na Idade Média em torno das corporações e ofícios, assim se entende o desempenho das confrarias báquicas e as posteriormente de produtos alimentares e de comeres. O bodo deriva da doutrina assistencial da Igreja repartida em centenas de confrarias, assim o demonstrou nos seus trabalhos a historiadora Ângela Beirante o explica cristalinamente.

Se confraria báquica de Saint-Etiénne criada no século XIV continua a promover e certificar os vinhos da sua região, o seu exemplo multiplicou-se e existem múltiplos signos e rituais a diferenciá-las. No tocante às confrarias «gastronómicas» perduram as de defesa das tradições alimentares de região para região nomeadamente em França e Espanha, de diferentes matricialidades; famosa a confraria maçónica dos tecelões de Lyon cujos ágapes obedeciam ao simbólico do número 7, sete partes de cada matéria-prima empregue na confecção dos referidos ágapes.

Parece-me oportuno escrever neste texto a amálgama existente nesta matéria podendo-se afirmar a existência de confrarias selvagens no tocante a doutrina aprofundada e consequente prática/praticada.

PS. Aconselho a leitura de Rabelais.