Paulo Amado conversou em vídeo para a terceira série do Boca Mole com Vítor Hipólito (Garrafeira Imperial e Tapas 52, Lisboa), Tiago Carvalho (URBAC, Braga) e Ângela Leal (SARA HACCP) para iniciar um tomar de pulso ao atual momento da restauração em Portugal. Agora surge a mesma conversa em formato entrevista. Ei-la de seguida.

Paulo Amado (PA): Hoje é o dia em que saíram as recomendações da Direção Regional de Saúde para os estabelecimentos de restauração e bebidas. Estamos com Vítor Hipólito, em Lisboa, estamos com a URBAC através do Tiago Carvalho, em Braga e estamos com a Ângela Leal, em Leiria.
Começo pela Ângela. Tu que és a especialista nestes temas da higiene e da segurança alimentar, que linhas fortes é que tiras desta emanação da Direção Geral da Saúde?

Ângela Leal (AL): Então as orientações que saíram hoje vão muito ao encontro do que nós estávamos à espera. Pronto, é a questão dos distanciamentos e a questão de reforçar toda a higiene que a indústria alimentar já está preparada nesse sentido. Essencialmente vem nestes pontos o diploma que saiu hoje. A questão dos distanciamentos, a questão das máscaras que já vem aqui definido neste diploma assente essencialmente em três intervenientes, as orientações para as empresas, as orientações para os clientes e as orientações para os funcionários.

PA: E ficas-te por aí. Vítor, este tema aparece aqui num cenário que é o da restauração que tem um conjunto de exigências do ponto de vista da higiene e segurança alimentar que são grandes verdades.

Vítor Hipólito (VH): Cada vez maiores e, às vezes, a gente leva-se a sério de mais. Acho que é fundamental a gente perceber o enquadramento para depois tentar adaptar na melhor das hipóteses à realidade do espaço de cada um. Eu tenho sentido algum alarmismo de toda a gente e na dificuldade de cumprir ao máximo as direções que eu acho que essa é a vontade de todos, mas depois elas têm que ser exequíveis e executáveis, não é? Essa é que é a grande questão.

PA: Tiago, antes de vos perguntar os efeitos da vossa manifestação… Eram esperadas estas emanações da Direção Geral de Saúde. Achas que são passivas de serem atendidas na ocupação de um restaurante? É por mais, é por menos? O que é que achas?

Tiago Carvalho (TC): Seguindo um bocadinho aquilo que a Ângela acabou de citar, existe aqui de facto reforços no que toca à higienização. Aqui a particularidade desta orientações da DGS tem aqui a singularidade, pela primeira vez, de começarmos a ouvir falar da lotação do espaço, ou seja, onde nos são recomendados algumas medidas e algum distanciamento entre clientes, entre mesas. Esta acaba por ser a maior novidade porque o resto nós, enquanto empresários da restauração, na sua maioria já cumpríamos algumas destas exigências que era aquilo que nós tínhamos vindo a falar que era aplicar o HACCP e haver algum reforço de medidas. Daquilo que eu li, porque isto é recente, existem aqui algumas questões que a DGS deixa um bocadinho omissas.

PA: Eu não queria já afunilar no tema.

TC: Sim, mas no geral, face a tudo aqui que foi falado neste passado muito recente, acho que apesar de tudo acabam por ser recomendações perfeitamente aceitáveis face à situação que se vive.

PA: Vítor eu afunilei a pergunta para ti sobre o cenário já existente na restauração acabaste por não dar aqui a tua opinião assim já do ponto de vista geral sobre este documento. Queres fazê-lo?

VH: No geral, eu acho que acabaram por não ser as notícias catastróficas que toda a gente temeu. No início houve algumas ideias absurdas que apareceram aí onde havia que ter o cuidado de não tornar os restaurantes em hospitais. E eu acho que isso acaba por não ser as más notícias de todos. Agora qual é a realidade financeira que nos vai permitir viabilizar os projetos de cada um, aí é outra história.

PA: Ok. Bom, muito bem. Eu também li este documento e parece-me cheio de conceitos indeterminados, há aqui uma cogestão que é estranha. Há aqui muito material e informação que é susceptível de causar vários entendimentos. É um tema que não sei se vocês estão a ter em linha de conta, isto vai ser a orientação base, mas vai ter que sair um decreto do governo para dar força de lei à aplicação dos princípios que aqui venham consagrados e talvez alguns novos. Portanto eu não sei se este será o documento final. A Direção Geral de Saúde tem esta prerrogativa de emanar este tipo de orientação, mas eu diria que seria prudente esperar por um segundo documento, no entanto hoje a nossa ideia é podermos analisar este primeiro. Comecemos pelas empresas. A Ângela tem um projecto que se chama SARA HACCP… queres aproveitar para explicar num minuto do que é que se trata para sabermos com quem estamos a falar.

AL: Bem a SARA HACCP é um software que permite o registo do plano HACCP sem recurso a papel, pronto numa forma muito simples é isto.

PA: Vítor tu estás num restaurante em Lisboa que se chama?

VH: Chama-se Tapas Bar 47, Garrafeira Imperial.

PA: Os teus projectos são esses dois?

VH: Não, eu tenho o Amazónia, o Tapas Bar 52, o Tapas Bar 47 e a Garrafeira Imperial.

PA: Ok, Tiago tu tens o teu próprio restaurante e através da URBAC representas um conjunto de restaurantes que até recentemente tiveram aí um acto público. Gostava que comentasses do teu ponto de vista do teu restaurante da URBAC e desse acto público.

TC: Estou ligado à área da restauração, tenho dois estabelecimentos, um chama-se Tasca de Paiola e outro chama-se Kartilho. Represento aqui também a União de Restaurantes de Braga de apoio ao Covid. Surgiu uma necessidade de partilha de informação e de ver como é que se iria desenrolar todo este processo. Conseguimos ao longo destes dois meses ser ouvidos por entidades governamentais, enviámos manuais de procedimentos quando soubemos o que é que AHRESP andava a propor e demos também medidas fundamentais e fundamentadas para a salvação da restauração. É lógico que isto partiu de Braga, mas é sempre num âmbito geral, porque ninguém ia legislar para Braga como é lógico. Neste momento tenho dividido mais tempo para a URBAC do que para os meus projectos assim ditos. Relativamente à manifestação, colocámos na praça do município as mesas já com distanciamento de dois metros entre elas com as mesas postas sem clientes porque é uma visão que nós sabemos que iremos passar por ela num curto espaço de tempo. Quando abrirmos temos que estar muitas vezes de mãos cruzadas à espera de clientes que não acabarão por entrar. Simbolizámos também com espantalhos que é como nós nos sentimos em relação à situação do sócio-gerente que enquanto empresário foi deixado de parte nesta situação de layoff. Pusemos também alguns sacos pretos simbolizando os cadáveres e os postos de trabalho que estão a ser abandonados na ausência de medidas reais a este sector que é o fecho da cadeia de abastecimento tão importante. Penso que agora já se começa a sentir o impacto que existe por causa da restauração estar fechada. Seja na parte do vinho, da pecuária, da agricultura, da panificação, ou seja, já se começa a ver a importância da restauração para que a economia reaja e o trabalho da URBAC foi contribuir para esse efeito.

PA: Então olha, continuamos contigo aqui sobre este primeiro tema das empresas, dos colaboradores e dos clientes. Já havia um conjunto de regras a cumprir e agora acrescentam aqui umas do ponto de vista da segurança deles próprios e também dos seus clientes. Temos aqui a formação, o plano de contingência, a lotação máxima no estabelecimento, a disposição das mesas, a reserva, o buffet…vamos aqui um a um talvez. A formação parece-me ok, agora no que diz respeito à capacidade diz aqui o seguinte: “dispõe sempre que possível as cadeiras e as mesas por forma a garantir uma distância de pelo menos dois metros entre as pessoas.”
Este “sempre que possível” é para os dois lados, porque ou vem obrigatório ou então a pessoa diz QUE não foi possível, mas vamos admitir que será essa a obrigatoriedade, como é que vocês vêem no ponto de vista da sobrevivência de um espaço da restauração?

TC: Paulo, indo um bocadinho ao encontro daquilo que tu disseste há minutos atrás, isto são recomendações DGS. Nós teremos que esperar porque quase de certeza que irá sair um diploma para fazer disto forma, mas não podemos deixar de, neste momento, olhar para este diploma e as coisas são um bocadinho vagas como estamos a concluir. Neste momento parece que está a dar aos restauradores a forma como cada um pode interpretar as recomendações, o que eu entendo deste documento é que cada um irá pôr em prática as recomendações e isto fará com que o cliente tenha que escolher se aquele tem os dois metros eu sinto-me mais seguro. Se for assim isto poderá fazer sentido como está mas a questão é esta, enquanto não sair algo que seja um diploma que decrete e que dê força a estas exigências vamos voltar um bocadinho a chover no molhado. Vamos estar a falar, mas não vamos saber aquilo que estamos a falar. Se for dado força a isto é lógico que principalmente os estabelecimentos históricos no centro histórico e aqueles mais pequenos vão perder muita capacidade de trabalho.

PA: Este tema da capacidade… qual é a tua perspectiva sobre isto do ponto de vista pessoal, ou seja, de que maneira é que isso interfere com o teu negócio se de facto for dois metros de distância entre mesas?

VH: Epá vai depender da disposição de cada um dos restaurantes, no meu caso eu tenho um restaurante mais pequeno e dois maiores para cerca de 100 pessoas. Uns têm três salas e outro uma sala só portanto é muito difícil fazer à figura da lei uma imposição clara. Neste momento estamos já a tentar delinear o novo layout, estamos a tentar perceber realmente qual é a capacidade. E nós tendo os restaurantes perto uns dos outros a nossa estratégia principal é tentar com que as pessoas jantem mais num sítio para as conseguir deslocalizar depois. Tentar ativar ao máximo o maior número de turnos possível respeitando ao máximo os tais dois metros entre mesas.

PA: Ok, sabes que podes manter as mesas como estão e gerir a colocação dos clientes.

VH: Exatamente é isso que nós estamos a fazer, ou mantendo como está ou tentando fazer um novo layout. Estamos a tentar perceber qual é a maior rentabilidade possível no espaço disponível que temos.

PA: Muito bem, muito bem. Outro tema tem que ver com as reservas. Aqui diz sempre que possível promover o agendamento prévio para reserva por parte dos clientes. Bom eles reservando ou entrando pela porta, é um tema para ti isto?

VH: Não, para mim é um não tema. É mais uma linha que aqui se coloca. Para já porque não acredito que ninguém hoje possa dispensar um cliente essa é a questão número um, a questão número dois que eu acho que quando se prepõe reservas é no sentido de se tentar criar aquele tema que nós conhecemos antigamente, mas que hoje cria uma nova figura que tem a ver com os sittings. Senós conseguirmos organizar dois ou três sittings acho que conseguimos maior rentabilidade e fazer com que os clientes reservem dentro do horário que nós consideramos atingir o maior número possível de clientes, respeitando as regras.

PA: Bom há aqui um tema de buffets que parece que faltou aqui um técnico, porque estão desaconselhados as operações de self service, nomeadamente os buffets. Opá o buffet com o devido resguardo e com serviço deixa de ser buffett e passa a ser o chamado self service parece-me que não era de desconsiderar. Todos nós enquanto operadores ou clientes OTL sabemos que há alguém do lado de lá que sirva que não precisamos de acabar com isso.

VH: Não, o que eu acho em relação a isso tem a ver com os buffets abertos onde as pessoas pegam nos mesmos talheres.

PA: Justamente, exatamente, também esses utensílios.

VH: Quando é self service já muda a figura.

PA: Pois, mas parece-me que a questão é que estão desaconselhados e provavelmente haverá aqui um corte para o futuro para perações tipo self service, nomeadamente buffets. E a ser estão permitidos mediante o cumprimento dos regulamentos e tudo mais. Ângela, os restaurantes antes já tinham um conjunto de dispensadores que eram necessárias para a higienização dos seus clientes e também dos seus funcionários, do que vês aqui qual é o acrescento? E se vês aqui a possibilidade dos restaurantes adotarem isto? Eu hoje de manhã, por exemplo, fui a duas pastelarias e eu percebi que as pessoas não têm a mínima formação, tem luvas que é outro tema terrível e com as luvas recebem, dão, pagam aquilo… é uma desgraça este tema das luvas, definitivamente é uma desgraça.

AL: Então quanto a esta questão dos dispensadores, os restaurantes já estavam completamente preparados para isso porque em todas as cubas de lavagem, a restauração já cumpria todos estes requisitos. A única coisa que vem aqui acrescentar foi a questão do desinfectante disponibilizado ao cliente na entrada, pronto. Foi uma coisa que na altura da Gripe A foi implementada e efectivamente já existe em muitos estabelecimentos, inclusivo estes dispensadores já estavam dispensados à entrada, por isso esta questão aqui também não é de transcendente a esta implementação dos dispensadores. A restauração está completamente preparada para isso, muito mais do que aquilo que referia aqui porque os detergentes na área alimentar para as mãos dos funcionários era bactericidas, eram muito mais do que um sabão.

PA: Olha e este tema das superfícies, como vês isto?

AL: Eu acho que é assim, os estabelecimentos que já cumpriam todas a directrizes da HACCP no fundo esta ordem de limpeza eles já a faziam, porque há sempre uma higienização das bancadas de trabalho apôs o trabalho, aqui só vem reforçar o número de vezes para as pessoas que não perceberam o conceito de higiene antes, então é para dizer ok é para fazer pelo menos neste sequência.

PA: Vítor tu que tens os teus restaurantes, tens as equipas, parece-te que há aqui alguma coisa assim de excepcional ou vês isto passível de ser entendido e implementado?

VH: Não, eu acho que a grande dúvida é a higienização das zonas comuns. Ao restaurante os outros circuitos todos estão perfeitamente estendíveis e perceptíveis, em relação aos higienizadores a grande diferença que nós vemos aqui é que possivelmente na roda e na entrada do restaurante passará a ter cada vez que o empregado de mesa irá a uma mesa ele vai ter que higienizar a mão e quando voltar vai ter que higienizar novamente esses serão os dois pontos novos. A outra questão será a higienização dos espaços comuns onde eu acho que vai ser um bocadinho a imagem de um avião antigamente as pessoas vão ter medo de sair do lugar com medo de tocar nas coisas, estes espaços são os que vão dar mais problemas, porque não pode andar um empregado sempre atrás do cliente a limpar.

PA: Aqui diz desinfectar pelo menos seis vezes por dia com recurso a detergentes adequados a todas as zonas de contacto frequente, por exemplo, mesas, portas, bancadas, corrimão, etc. Já falei com pessoas que têm receio que isto possa exigir um empenho tal que possam vir a ter uma pessoa dedicada só a perseguir o cliente ou a vigiar a casa de banho e estar sempre a limpar as áreas comuns. É estendível, é um tema de segurança, é capaz de ser um bocado excessivo uma pessoa só para isso principalmente em tempos como estes.

VH: Paulo, eu acho que aqui também tem muito a ver com a percepção dos cliente squando começarem a vir para a rua. Eu acho que nós temos que estar muito próximos dos clientes e agora cada vez mais para tentarmos ver também quais os seus receios em relação a tudo isto. Eu só acho que temos que tentar evitar é alguém vestido de médico ao pé dos clientes para limpar as casas de banho é só isso que se vai tentar evitar.

PA: Ok, Tiago falando em higienização, em materiais de higiene e proteção, o Governo criou uma linha com mais de 500 e menos do que 5000 mil para as empresa, micro empresas para poderem adquirir este tipo de produtos e utensílios. Como é que o URBAC viu esta medida?

TC: Todas as medidas, principalmente essa que tem 80% desse valor, é a fundo perdido e é bem vindo. Claro que faz todo o sentido esse tipo de apoio. Penso que a partir de segunda feira já existirão os impressos para se proceder a essas candidaturas e a que forma será feita.

PA: Ainda estamos aqui no capitulo das empresas, falaste há pouco do sócio gerente. Qual é a vossa reivindicação para o apoio ao sócio gerente nesta altura?

TC: Nós achamos que o sócio gerente, neste momento, é um trabalhador e trabalha horas que nunca acabam. E então tem que ter uma salvaguarda financeira que permite o sustento da sua família é nesse intuito que nós achamos que deve ser feita. uma salvaguarda ao rendimento do sócio gerente. Nós, enquanto funcionários da restauração, ficámos completamente suprimidos e temos que assumir as nossas responsabilidades que são os pagamentos dos nossos colaboradores.

PA: Ok, bom antes de entrarmos nessa parte dos colaboradores, estamos ainda na parte das empresas, fala-se da higienização dos terminais de pagamentos e mais uma vez, três vezes por dia os sanitários colocar as toalhas e higienizar as mesas com produtos recomendados entre cada cliente, retirar os decorativos das mesas. No que diz respeito as ementas acho que há aqui lugar para o mundo digital poder florescer um pouco mais. A ventilação o ar condicionado exclusivamente em modo extração e nunca em modo de circulação de ar era um tema que suscitava aqui alguma conversa. Garantir o cumprimento das medidas previstas nos HACCP SARA.

AL: No fundo, com esta situação que a restauração vive aqui, é só passar todos os requisitos implementados nas cozinhas para as áreas comuns e a seleção adequada dos produtos de higienização que também os restaurantes já tinham. Agora é importante que o restaurador e os funcionários da restauração tenham é cada vez mais a noção de saberem aplicar os produtos correctamente, por exemplo há uma coisa que a DGS não fala que é a questão dos amónios quaternários e de selecionar produtos de higienização que tenham amónios quaternários vai permitir um grau de higienização muito grande, porque vai ficar a actuar só sobre as superfícies o amónio quaternário e depois a utilização do álcool no final. É só importante selecionar os desinfectantes adequados.

PA: Ok, muito bem. Há pouco passei por cima do tema a ver com o plano de contingência e vou agora pegar nele. Tiago esta história das equipas em espelho de agora metade 14 dias e depois a outra metade outros 14 para a segurança… isto do ponto de vista da operação para a restauração que experiência é que tens tido, que feedbacks?

TC: Nós temos falado com os nossos e com as empresas que fornecem esse tipo de serviço também de segurança no trabalho e nós acreditamos que terá que ser muito adaptado ao nosso sector. Quando estamos a falar em plano de contingência, ele não foi pensado só para o sector da restauração, ele foi pensado para um conjunto macro económico chamemos assim. E no que toca ao sector da restauração se calhar não é assim tão complexo como se está a pensar. Essas segundas equipas não serão tão postas em causa. A restauração vive dos turnos maioritariamente, o turno do almoço e o turno do jantar e muitos de nós irão adaptar ou fazer só ao almoço ou fazer só jantar. agora numa primeira fase vamos ver qual será a procura também. Nós estamos aqui a discutir a lotação do espaço e tomara a nós muitas das vezes cumprir essa lotação. Temos que estar preparados para uma série de situações. Epá o plano de contingência estamos a ver agora como é que vai ser elaborado e adaptado nisto que se chama restauração.

PA: Muito bem, isto há regras para toda a gente, para as empresas, para os colaboradores e até para os clientes. No caso dos colaboradores surge aqui algo era uma prerrogativa que qualquer cidadão tem, mas que esta emanação faz questão de divulgar e que é “cumprir as recomendações de segurança. reportar à empresa ou às entidades competentes situações de incumprimento das medidas implementadas que podem condicionar perigo para a saúde pública, portanto patrão ou cumpres a lei ou… A etiqueta cumprir as medidas de higiene das mão e a etiqueta respiratória, higienizar as mãos entre cada cliente, usar correctamente uma máscara durante o período de trabalho no espaço com múltiplas pessoas. Este tema do espaço com múltiplas pessoas basicamente quer dizer que a máscara tem que ser usada sempre. Estou a entender bem? Não sei.

TC: Sim

PA: Diz aqui que o uso de máscara não sobrepõe a outras medidas de higienização como o distanciamento físico recomendado, que deve ser mantido. Está certo. A questão é que aquilo das viseiras afinal não dá para a restauração. Entendi mal? Alguém tem outro contributo?

AL: É assim, a legislação efectivamente neste momento permite a utilização de máscaras ou viseiras e isto é a legislação que está em vigor agora. Neste guia, este guia só fala das máscaras. Pronto efectivamente do ponto de vista de segurança no trabalho, da saúde ocupacional do trabalhador, a viseira não vai efectivamente proteger por isso aqui a questão da utilização das máscaras.

PA: Não protege porquê? A minha respiração é para a frente.

AL: A máscara e o sentido de protecção da máscara e das máscaras cirúrgicas não é proteger de fora para dentro, mas sim proteger sempre de dentro para fora e com a viseira nós estamos a manipular os produtos e os produtos estão por baixo dessa respiração. Pronto. É por essas questões que se calhar a orientação geral de saúde referiu aqui esta questão das máscaras, mas temos que ter a noção de que às vezes é quase impraticável em determinadas situações e desumano para o trabalhador colocar em frente a uma grelha ou grelhado um trabalhador a utilizar máscara. Efectivamente é muito duro para o trabalhador ele estar perante esta utilização da máscara e depois ainda não está preparado, porque não é um profissional de saúde, para a utilização destas máscaras frequentemente.

PA: Vítor como é que tu, que também és cozinheiro, te vês perante este cenário dos teus cozinheiros terem que usar máscara?

VH: Eu acho que neste momento é a situação mais segura.. eu acho que há duas medidas básicas que nos vai acompanhar por bastante tempo que é o álcool gel, a higienização das mãos e o uso das máscaras.

PA: Muito bem, o trabalhador tem mais uma vez obrigações, diz aqui, cabe ao trabalhador garantir que a disposição das mesas e cadeiras no estabelecimento permitam uma distância de pelo menos dois metros entre todas as pessoas. A lavagem dos utensílios entre 80 a 90 graus centígrados, pronto também está certo. Agora o tema das luvas, vocês são todos funcionários ligados à restauração há muitos anos, aqui parece-me que não é obrigatório as luvas. Relativamente ao uso de luvas descartáveis o colaborador deve saber. O uso de luvas para preparar e manusear alimentos não substitui a frequente higienização das mãos, eu entendo aqui que não é obrigatório usar luvas. O que é que vocês entenderam?

TC: O mesmo.

VH: Não é de todo, porque se não por cada ida à mesa tinha que usar uma luva, não é?

PA: Pois. Não devem passar com as luvas de uma área suja para uma área limpa. Antes que essa passagem aconteça as luvas devem ser substituídas. Isso é que era um desatino, a perda de tempo. Bom outra vez aqui o referir de uma janela temporária, as luvas devem ser substituídas a cada quatro horas ou sempre que necessária. Naturalmente, a atenção que cada um deve ter do ponto de vista de consciência do que é a saúde e se perceber se tem sintomas ou vestígios do Covid, ligar para a linha da saúde 24 e não se dirigir ao local de trabalho. Agora aqui algo que eu venho como singular, que é os clientes, os cidadãos num espaço de restauração poderem ser colaborantes para com toda esta implementação. Há um tema que eu não vejo aqui, mas já vi à porta de alguns restaurantes que vão abrir. um destes avisos que diz uso de máscara obrigatório, mas eu não vejo aqui o uso de máscara como obrigatório…

AL: Está aí um ponto que diz considerar.

PA: Pronto, considerar. É aquele conceito indeterminado.

VH: Eu li em qualquer lado também que a máscara seria para usar nos circuitos comuns, portanto enquanto as pessoas estão à mesa não, quando vão para os circuitos públicos sim.

PA: Vítor, vais dar instruções ao teu pessoal e se for preciso ter máscaras para dispensar aos clientes?

VH: Eu com a Garrafeira, que entretanto já abri, já estou a fazer isso. Ainda há muitos clientes que aparecem sem máscara. E vai acontecer. Eu acho que vai criar alguma confiança.

PA: Tiago queres dizer alguma coisa?

TC: Quero. A questão que a Ângela está a dizer de considerar a situação das máscaras isto tem a ver para serviços de take away que estão instalados no estabelecimento, ou seja, há aqui uma salvaguarda para quem vai buscar a refeição e vai levá-la para casa. Não existe de facto mais clara aqui uma salvaguarda para o cliente na zona de acesso comum, mas há aqui uma questão que nos estamos a esquecer… esta de cumprir medidas de etiqueta respiratória e ao abrigo daquilo que é o Estado de Calamidade decretado, nós somos obrigados dentro do estabelecimento permanecer de máscara. O cliente deve estar de máscara e só retirar quando está na mesa.

AL: Exatamente. Agora vamos esperar pelo próximo conselho de ministros para ver a alteração.

TC: Mas nós funcionários da restauração quando abrirmos no dia 18 devemos nos cingir pelo que está agora no decreto.

PA: Parece-me que o uso de máscara não faz parte do plano da etiqueta respiratória, parece-me que é um tema à parte.

TC: Mas diz aqui, Paulo, “cumprir medidas de etiqueta respiratória”.

PA: Depois tens aqui este cartaz que diz que “ao tossir ou ao espirrar não use as mãos, porque é um dos principais veículos de transição da doença, use um lenço de papel ou o ante-braço dei-te o lenço de papel ao lixo e lave as mãos”. Parece-me que todos concordam que dentro do restaurante o cliente deve de usar máscara.

TC: Na zona comum sim, na mesa deve tirar.

AL: As recomendações da OMS é a utilização de máscara sempre que não se consegue garantir o distanciamento físico, porque se nós estamos a implementar medidas para garantir o distanciamento físico então esta questão da máscara já fica para segundo plano porque nós consideramos a medida principal, que é o distanciamento físico.

PA: Ok, então aqui em resumo. O papel dos clientes é higienizar as mãos, respeitar a distância entre pessoas, cumprir estas medidas de etiqueta respiratória, considerar a utilização de máscara nos serviços de take away que estão instalados dentro dos estabelecimentos sempre de forma adequada com as recomendações da DGS… Parece-me que não há aqui uma contemplação das pessoas que se vão sentar.
Evitar tocar em superfícies e objectos desnecessários… isto vai ser muito engraçado. Dar preferência através do meio que não implique contacto físico. Entre o colaborador e cliente por exemplo com o terminal de pagamento automático e depois se apresentar os sintomas de COVID19 não frequentar os espaços públicos. Há uns cartazes informativos. aqueles das etiquetas respiratórias já referi à pouco, há aqui outro que explica o procedimento de lavagem de mãos que deve durar 20 segundos. Vítor, a partir de dia 18 contas começar a abrir os teus estabelecimentos?

VH: Sim, o horário pelo que eu percebi é até às 11 da noite.

AL: Está no plano de desconfinamento para dia 18, mas vamos ver tendo em conta o aumento de casos que têm ocorrido.

VH: Portanto às 23h… sSerá importante para perceber, a ideia se calhar é fazer um turno de trabalho. Em relação aqui ao nosso esquema nas últimas duas páginas a grande questão que se coloca tem a ver com o caso se costas com costas se está previsto ou se tem que continuar a existir os tais metros. A questão dos dois metros é dois mais dois para todos os lados ou é só no sentido onde as pessoas estão sentadas?

AL: Neste documento só aparece quando as pessoas estão sentadas.

Paulo Amado – Ok, boa compreendemos. Os teus colegas estão a pensar abrir a 18?

TC: Acho que sim, pelo menos pela nossa sanidade mental. Paulo, este documento vem acima de tudo dar uma bofetada na AHRESP porque a questão é esta: ou vem uma coisa mais concreta que é o que as pessoas estão à espera onde digam os números… falam em co-habitantes mas não enumera o número de pessoas que podemos sentar numa mesa.

AL: Relativamente a isso é uma coisa que eu vejo muito, a lotação do espaço nós apresentamos a lotação do espaço que é obrigatória ser apresentada no exterior tudo vai depender se eu tiver pessoas individuais, se eu tiver famílias, tudo vai variar um bocadinho com isso. Como é que vamos implementar isto?

TC: Exatamente por isso é que estava a mencionar isto o número de pessoas por mesa.

VH: Mas a grande questão é como é que nós vamos pedir um atestado de residência aos nossos clientes,como é que nós vamos fazer? Em que lado é que isso fica? Fica no lado do bom senso do cliente? Do restaurador? Fica de que lado?

AL: Depois a Comissão de Proteção de Dados ainda vem dizer que não permite recolher esses dados.

VH: Se chegarem quatro pessoas ao restaurante, dois casais e dizerem que vivem juntos, como é que nós fazemos?

PA: Exato, outro tema também tem a ver com a medição de temperatura que vinha mencionado nesse tal documento susceptível de ser um contributo para esse e que agora aqui também não há menção alguma.

AL: A única menção que existe na questão das temperaturas é a possibilidade do empregador o fazer ao trabalhador e é já na legislação que está em vigor para o estado atual, mas uma possibilidade de o fazer desde que não tenha registo.

PA: Ok. Bom, meus caros, obrigado. Fizemos aqui uma passagem rápida creio por quase todos os pontos destas orientações. Agradeço a vossa disponibilidade para da manhã para a tarde estarem aqui comigo a comentar, foi um prazer rever-vos. Vítor, há algum tempo que não te via, Ângela, Tiago obrigado a todos e adeus.

Para ver o vídeo desta conversa clique aqui. Para ouvir em formato Podcast clique aqui.