Não sei se é do período que vivemos, mas tenho alguma dificuldade em viver as coisas sem emoção. Não era que antes andasse distraída ou vivesse os momentos a seco, mas agora fico com o olhar preso às pessoas, à paisagem, à natureza animal ou vegetal como aquele cuco que hoje me acompanhou durante parte do caminho com o seu “cucu”. Deve ser com certeza do período que vivemos, afinal nem eu nem o mundo teremos mudado assim tanto. Perante o enorme e gigantesco abanão que ainda faz tremer o mundo acho que ficámos todos mais sensíveis à emoção. E talvez isso só seja o reflexo de que a humanidade de que somos feitos está a vir ao de cima e é fermento para um mundo melhor. Feliz por isso, feliz pelo alívio que se pressente na clausura a que estivemos submetidos e que nos vai dar a liberdade de pormos o pé fora do nosso terraço. Feliz pelo nosso #resistir. 

Mas sabemos que teremos que estar sempre um passo à frente daquilo que nos espera. Das ideias criativas, às vezes apenas loucas, às escolhas e passos necessários sabemos que #resistir será também reagir e precisamos não dar tréguas. Tenho pensado como o mundo da produção e da comercialização, num ápice, soube transformar-se, reinventar-se como a sociedade achava necessário. Sites e lojas online feitas de um dia para o outro, aposta nas redes sociais, adaptação à logística da venda pela internet. Tudo rápido, tudo em menos de semanas. O nosso povo é mesmo fantástico! Homens e mulheres capazes de mudar o mundo. Só pergunto se não deveríamos dar mais atenção à outra metade da equação, o público consumidor. Aquele que compra, que tem poder financeiro e que, não conhece bem os procedimentos das compras online e, por outro lado, ainda desconfia da segurança da operação. Pergunto se não deveríamos criar mais confiança no consumidor, porventura promovendo alguma alfabetização digital que fosse ao encontro de regras de boas práticas de vendas online. Seria uma boa maneira de darmos competências e confiança a uma faixa etária que tem poder de compra e que pode fazer a diferença no volume de vendas. E é bom perceber que não serão só os mais velhos a desconfiarem da segurança, outros bem mais novos ainda olham de lado esta realidade.  Por outro lado, as campanhas publicitárias têm que acompanhar a criação de outros imaginários sociais associados ao consumo. Ou seja, se antes os consumos eram associados à confraternização social, aos jantares de grupo, à vida em geral, porque não começar a associar o vinho, o chá, o queijo, as frutas e tantos outros produtos a uma vida não tanto em conjunto, mas a uma fruição individual ainda que a fazer lembrar o coletivo? Há que mudar os imaginários associados e relembrar que na solidão partilhada do teletrabalho ou do encontro através das redes sociais também pode haver fruição dos muitos produtos que temos e que fazem a singularidade da produção nacional. 

Concentrámos a nossa atenção em quem produzia e em quem vendia, agora é altura de olharmos o público consumidor. Sinceramente, vejo imensas possibilidades de fazer crescer Portugal e não deixar cair a nossa boa produção. Sinto que esse público quer ir ao encontro do que lhe está a ser oferecido, só precisam de ter confiança e de saber como. E, de novo, seremos fermento.