Sem dúvidas, sem medos, sem qualquer ponta de receio. Perante as notícias de hoje, há que agir. Olhar as melhores soluções, as que podem agilizar o serviço e o negócio de cada um e andar em frente. Perceber que se temos que fazer mudanças, as mesmas se devem à necessidade de preservar ao máximo a saúde de todos, os que estão dentro da cozinha e os que estão na sala. O resto é a vida a acontecer e a chamar por nós.

E, em Maio, temos outras coisas a chamar por nós. “Maio as dá, Maio as leva”. Pois, já adivinharam do que estou a falar, de favas. Essa leguminosa que tanto nos conta ao longo da linha do tempo. Provavelmente, uma das primeiras leguminosas a ser domesticada pelo homem quando este é empurrado para a agricultura, a fava surge como alimento para os egípcios, fenícios, gregos e romanos sendo que não só aproveitavam o fruto, como também as folhas e as vagens. Nascida como alimento junto de povos que viam no pão o seu bem maior, em período de escassez de cereal era a fava transformada em farinha e com ela se fazia o desejado bem. Durante o período medieval a fava moída foi medida certa a calar a fome de muitos. Talvez por este consumo exagerado, tenha surgido o favismo, um síndrome hemolítico agudo que surgia após a ingestão de favas.  

Mas o que é certo é que, para nós, as favas têm um encanto que faz com que fiquemos a aguar por Maio, pelo mês delas. O melhor é esgotar o apetite logo com as primeiras a aparecerem na horta, são as mais tenrinhas e as mais saborosas. As últimas comem-se, mas são menos gulosas. Duras e de sabor assim-assim são boas para a sopa. Sabemos que isto de receitas, cada um tem a sua e nas favas não é diferente. Sem prejuízo de preferências diferentes vindas de outras geografias, destaco as cozidas regadas de toucinho estrugido com cebola e as guisadas com suculentos enchidos. Tenrinhas e bem temperadas, comem-se as favas e quase se dispensa a carne não fosse a gula uma vontade poderosa dentro de nós. 

Mas para mim, as favas têm sabor a mais do que a panela bem cheirosa e apetecida. Das primeiras que surgem no quintal é feita uma boa distribuição pela vizinhança e pela família. Numa espécie de ritual de primícias, partilham-se as melhores e é um corrupio entre os vizinhos que não deixam de contar como as vão cozinhar. Sinceramente, nem sei do que gosto mais. De comer as apetitosas favas ou do dar e receber. 

É certo que as favas nunca estiveram na preferência dos mais ricos e poderosos, mas foram alimento poderoso para multidões famintas. Se tal era válido em Roma, também o foi na Europa Medieval. Felizmente que hoje são alimento abençoado e a sua chegada é festejada por todos os que gostam desta leguminosa. Recuperam-se receitas antigas e descobrem-se novas preparações. A barrigada é a altura da vontade e, quando chega a despedida lá para os finais de Maio, sabemos que é tempo de as deixar ir com a certeza de que teremos um ano para sentir saudades daquele sabor tenro. 

Maio, ainda está no início. Vamos lá aproveitar.