A vida flui com os silêncios e as gritarias do costume. Tudo gira em torno das questões que estão na moda e, de repente, o ruído é tanto que até nos impede de pensar. Penso nisto a propósito da moda da produção nacional. Ainda que uma boa moda, temo que seja só mesmo isso, uma moda, uma tendência que nunca se transformará em essência. E porquê digo isto? Porque, no que a este apelo ao consumo de produtos nacionais diz respeito, sinto que poderíamos fazer muito melhor. Começo por referir a fragmentação das campanhas. Pergunto-me se não seria muito mais útil a agregação das campanhas de acordo com uma ideia comum que permitisse controlar, por exemplo, a qualidade dos imensos produtos publicitados e que garantisse um preço justo para o produtor e para o consumidor. A pulverização das mensagens até pode ser vista como útil, afinal todos se envolvem, todos querem ser parte da solução. É certo que sim, mas também nos impede de vermos o que pode correr menos bem e, sobretudo, impede uma ação planificada, estratégica, ficando a ideia inicial ao abrigo do livre arbítrio. Se isso é bom, não sei. Mas gostava que as diversas campanhas seguissem uma estratégia partilhada e não fosse cada um a falar por si. No meio de tanto ruído nem conseguimos perceber qual a interligação entre todas e se essa existe de facto. Também temo que tal pulverização tenha como efeito o ruído que leva à desvalorização e enfraquece os objetivos. O público até quer ajudar, mas perante tanta chamada de atenção vinda de instituições, ora públicas, ora privadas, fica confuso e dúvida. Gostava que nos anos que passaram em que se gastaram imensos recursos em campanhas em prol do produto nacional se tivesse investido na qualificação dos produtos. Atribuir um selo só faz sentido quando não metemos tudo no mesmo saco, quando definimos o que está pronto a entrar no programa e o que precisa de ser organizado na produção e na oferta. Uma produção que salta sem critério de qualificação para a economia não acrescenta sustentabilidade à estrutura que lhe dá suporte e do qual depende. Passados todos estes anos, temos os nossos produtos DOP e IGP, alguns em crescimento, outros em agonia e depois temos um imenso mundo rural à espera de ser organizado, qualificado, promovido de acordo com as suas capacidades e potencialidades de produção. Para isso, há que criar regimes de qualificação que estejam ao alcance da produção grande, pequena, sazonal, etc. Se o fizermos iremos ver os frutos daqui a uns anos em que as pessoas, confiantes no que já conhecem e ao qual já se habituaram, consomem nacional porque acreditam nos produtores, porque sabem da qualidade dos produtos e não querem mudar. Pensar nacional exige estratégia, tempo, preparação dos produtores, qualificação da oferta, promoção adequada às diferentes produções. 

Queremos que a produção nacional seja um pilar da economia nacional, mas para isso não podemos fazer as coisas de forma atabalhoada. Tal só irá criar entropias, talvez não a curto prazo, mas definitivamente a longo prazo. Queremos que o consumo da produção nacional não seja apenas uma tendência, mas que se transforme em essência.