Dizem as gazetas, rádios e televisões que na Comunidade Europeia existem cinco países frugais situados na Europa do Norte (da ética protestante) empenhados em combaterem a gula dos países do Sul, os tais das putas e vinho, por cá cumprindo o ditado: putas e vinho verde.

Entende-se por frugalidade disciplina no tocante à absorção de comeres e beberes no cumprimento do preceituado pelas obras de misericórdia – dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede –, mas sem um gramo de abuso, porque a desbunda orgiástica da comida pertence aos glutões surenhos cuja representação nos tempos modernos é o filme A Grande Farra no qual a actriz Andrea Férroel é arquétipo de comer, comida, gula, gulodice, guloseima, excesso, auto punição masoquista, sofrimento e morte. Morte através da massiva e continuada ingestão de delicadezas gastronómicas e bebidas consentâneas com a solenidade sacrificial do acto. A gula é um pecado capital avisa o normativo eclesial e, por isso mesmo, os frugais dos países do enregelamento, a frialdade, querem-nos confinar à dieta do peixe fumado, cenouras anãs, arenques em conserva adocicada e doçaria anódina desprovida do sainete sensual: barriga de freira, cristas de galo, papos de anjo e, por aí adiante até aos fidalgos e morgados gulosos do reino dos Algarves.

Gordura é formosura soltavam as pregoeiras barrigudas emulas da carnudas mulheres pintadas pelo não frugal Rúbens, posteriormente as gordas luxuriantes cederam às estilizadas pelos jejuns, reinam agora no ordenamento nutricional favorecendo o entusiasmo masculino da frugalidade nórdica para gáudio dos masculinos dos PIGS – Portugal, Itália, Grécia e Spain –, tudo o mais é conversa. Os frugais desfraldam o estandarte da abstinência, nós preferimos tirar a barriga de misérias. Quem paga? Os frugais. Quem havia de ser!